VIOLÊNCIA ENTRE PARES

A violência entre pares, ou bullying, consiste numa forma de comportamento agressivo, muito frequente em contexto escolar, que ocorre repetidamente ao longo do tempo, e que envolve, por parte do agressor, a intenção de causar mal-estar ou dano a outra pessoa.

Embora, por vezes, possa ser considerada como uma reação esperada do ponto de vista desenvolvimental, a violência entre pares ultrapassa os aspetos normativos do comportamento agressivo no que respeita às suas diferentes formas de expressão.

A violência entre pares difere de outras formas de comportamento agressivo na infância e adolescência (por exemplo, os conflitos), constituindo uma forma de vitimização dos colegas, na medida em que ocorre em contextos em que existe um desequilíbrio de forças entre os jovens envolvidos, o agressor e a vítima.

A violência entre pares pode assumir diferentes formas:

Verbal: insultos, ameaças, gozo, chamar nomes;
Psicológica: rumores, boatos, manipular relações sociais, exclusão social, extorsão, intimidação;
Física: bater, pontapear, atirar ao chão, cuspir, tirar objetos pessoais.

Uma forma mais recente de violência entre pares é o cyberbullying, em que a vitimização dos jovens é feita através de emails, mensagens de texto ou outros meios digitais.

Os estudos realizados em diferentes países têm demonstrado que a violência entre pares é comum, envolvendo, em média, cerca de 15% dos jovens em contexto escolar.

Em Portugal, nos últimos dados obtidos no estudo Health Behavior School-Aged Children (HBSC), cerca de 36% dos jovens relataram ter sido, pelo menos numa situação, vítimas de provocação num período de dois meses, com 5% dos jovens a relatarem ter sido alvo de provocação por várias vezes nesse mesmo período.

Por outro lado, também neste estudo, cerca de 33% dos jovens relataram ter provocado, pelo menos uma vez num período de dois meses, outros jovens, com cerca de 3% a relatarem ter tido este comportamento por diversas vezes.

Estes mesmos estudos mostram que os rapazes apresentam maior probabilidade de agredir e ser alvo de agressão em comparação com as raparigas, que são alvo de bullying tanto por parte de rapazes como por parte de outras raparigas.

No caso dos rapazes, é mais comum a experiência de bullying físico e verbal; no caso das raparigas, o bullying verbal (incluindo, para além dos exemplos atrás descritos, insultos de natureza sexual) é mais comum.

De uma forma geral, a violência entre pares tem início no grupo etário entre os 6 e os 10 anos, aumentando desde os 12 até aos 15 anos.
Diversos estudos têm documentado os efeitos a curto, médio e longo prazo, da violência entre pares no funcionamento psico-social das vítimas:

- Baixa auto-estima;
- Elevada sintomatologia depressiva e taxas mais elevadas de depressão;
- Elevada ansiedade e, em alguns casos, sinais de stress pós-traumático;
- Sentimentos de solidão;
- Ideação suicida;
- Diminuição do desempenho, insucesso escolar e maiores taxas de absentismo.

Algumas vítimas de violência entre pares apresentam caraterísticas específicas que envolvem, também, a provocação dos colegas, caraterizadas por interações sociais reativas, e de retaliazação.
Por outro lado, diferentes caraterísticas têm sido identificadas nos jovens agressores:
- Crenças mais favoráveis em relação à violência;
- Maior capacidade de influência sobre os pares.

Outros problemas de comportamento:
- Vandalismo e roubos;
- Lutas físicas;
- Consumo de álcool, tabaco e drogas;
- Desistência da escola;
- Acesso mais fácil a armas;
- Outros comportamentos anti-sociais.

Não existe uma causa específico relacionada com o surgimento e manutenção da violência entre pares. Existe, pelo contrário, um conjunto de fatores (individuais, familiares, escolares, relacionados com os pares e com o ambiente social) que interagem entre si e que podem contribuir para aumentar a probabilidade de um jovem ter, ou ser alvo, deste tipo de comportamentos.

Como identificar um jovem em risco de violência entre pares ?

Alguns sinais podem ser um alerta para esta situação.

Alterações súbitas (ou mesmo graduais) do comportamento, dificuldades no sono (incluindo pesadelos) e no apetite, recusa em ir à escola, instabilidade emocional (incluindo choro fácil), irritabilidade, incapacidade ou dificuldade não habitual em expressar as emoções e as dificuldades associadas constituem, entre outros, alguns sinais a que pais e professores podem estar atentos.

É de notar, no entanto, que isto não significa, no entanto, que todos os jovens que apresentem estes sinais possam estar em risco, ou ser alvo, de violência entre pares.

Como prevenir a violência entre pares ?

Nos últimos anos, diversos currículos, estratégias e programas de prevenção da violência entre pares têm sido utilizados em contexto escolar.

Os resultados dos estudos sobre a eficácia destes programas para a prevenção da violência entre pares mostram que esta pode ser significativamente reduzida através da implementação de programas multi-componentes, em contexto escolar mas envolvendo, também, os outros agentes educativos do ambiente familiar e social, com vista à alteração dos processos subjacentes a estes comportamentos.


Marina Carvalho
Professora Auxiliar - Faculdade de Psicologia da ULHT
Psicóloga Clínica – Serviço de Psiquiatria do CHBA